sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Pátria: Ódio por amar-te


Caralho velho, fico feliz de ter algo para escrever hoje aqui. Sabe, às vezes fico meio sem assuntos, então fica complicado postar algo. Coisa que eu odeio é ficar falando da minha vida nos blogs, maaaas, hoje foi TÃO interessante que eu vou comentar.



28/08/2009 - Seleção de soldados para o Exército.


Bom, segundo meu CAM (Certificado de Alistamento Militar), deveria comparecer ao CSF-1 (o maldito quartel) às 6:30 da manhã.


Façamos as contas:


15 minutos de banho +
10 minutos para me arrumar +
30 minutos até chegar ao metrô Santa Cruz e encontrar-se com o Faiçal (que por acaso queria se encontrar comigo às 5 horas)

Somando, teremos um total de 55 minutos, colocando-me acordado às 4 horas da manhã.


Com muita alegria e disposição (não), acordei às 4:30 (siiim gente, eu me atrasei), fiz meus afazeres higiênicos e marchei direto à estação Santa Cruz, onde me encontraria com Mr. Khatib, o qual já estava bufando desesperado a me esperar.

Ao chegar à estação, vi o pequeno e doooce menino realmente nervoso. Eu perdi a conta de quantas vezes ele me xingou, mas isso não vem ao caso e nem acrescenta nada em nossa magnífica história.
Segundo o CAM, o quartel se encontrava próximo à estação Paraíso, mas eu nunca consegui confiar naquele maldito papel, então eu e meu amigo Hala-hala decidimos fazer um caminho diferente, descendo na estação Brigadeiro.
Chegando lá, procuramos a Rua Manoel da Nobrega (onde era o inferno) no mapa da estação, e incrívelmente achamos.

Marchamos até a maldita rua, onde já estavam vários garotos estranhos, todos com cara de quem viu a mãe ser agredida pelo pai alcoólatra. Então entramos na fila, fumamos um cigarro e esperamos os "defensores da pátria" abrirem o portão.


Dentre os garotos na fila, haviam umas figuras engraçadas, como um garoto magrelo, com uma franja ENORME e lambida, calça quadriculada e blusinha apertada. Sim, crianças e crianços, um legítimo e feio emo. Tinha também um garoto que olhava para um ponto fixo, não tirava o olho do tal ponto, olhava, olhava, olhava, olhava e olhava mais. Mais à frente vi meus ex-colegas de classe Miguita e Enzo (e percebia-se que aquela não era uma situação confortável a nenhum dos dois) e após um tempo Adati (alegando estar puto e esse ser o pior dia da vida dele) e Felipe Yagi (pedindo para o "Sargento Garcia" aqui dispensar ele do exército) chegaram, indo para o final da fila.

Como eterno moleeeque fanfarrããão que sou, estava LOOOUCO para começar a fizar piadinhas maldosas sobre meus quem sabe futuros companheiros de farda, quando, de repente, me aparece um carinha, todo de azul, careca, feio que até o demônio ficaria com medo, com um chapéuzinho que mais parecia uma saia, metendo a maiooor marra e gritando "Desencosta do portão!", "Tira a mala das costas" ou na pior das hipóteses "Feche essa blusa, se não quer fichá-la, tire-a!".

Foi quando ouvi essas generosas e gentis palavras que me dei conta na merda que estava envolvido. Quando finalmente o maldito portão se abriu, entramos e chegamos a um pequeno pátio, onde tinham bancos (que cabiam exatamente 6 pessoas) em que fomos organizados ao entregar o CAM. Meu queridíssimo colega Faiçal, levando uma sacola cheia de exames do joelho foi para os últimos bancos enquanto eu para os primeiros.



Então, a putaria começou, quando o mesmo maninho de azul (o feio que nem o belzebu) começou a grampear uns papéis no nosso CAM e nos chamar para pegá-los. Agora imaginem, esse processo de grampear papeizinhos terminou às 7 horas, sendo que entramos às 6:20, isso dá uma média de 40 minutos, sentados, olhando para o nada, sem conversar, com frio, com sono e morrendo de vontade de voar no pescoço daquele maldito gordo da junta que me mandou para esse fim de mundo.


Quando terminaram de entregar os CAMs, fomos encaminhados para a sala do exame médico, onde teriamos que ficar como viemos ao mundo (exatamente crianças, se vocês, moleques, ainda não foram para o exército, preparem-se, porque terão que pagar de piroquinha para fora para o médico, e vocês meninas, podem alastrar à vontade os moleques, porque nós passamos um frio DO CARALHO naquele lugar). Eu fui na primeira leva de aspirantes a militar a passar pela salinha da benga, mas, para minha inexplicável e MARAVILHOSA SORTE, ao tirar a camiseta (e sentir o frio entrando pelas minhas entranhas), um militar, com cara de bom moço, colocou a mão no meu ombro, e disse:


- Filho, você quer prestar?

- Não! - disse o garoto, sentindo seus braços adormecerem por conta do frio nórtico.
- Então pode se vestir e ir para aquela fila.


Seria isso um sonho? Eu realmente teria acordado às 4:30 da manhã naquela sexta-feira fria e apocalíptica? Eu teria mesmo entrado no quartel? Teria mesmo um soldado, perguntado para mim numa boa, se eu queria servir, e ao falar que não ele apenas me libera-se?
Eu não conseguia acreditar no que meus ouvidos escutavam, apenas queria sair logo daquela maldita cabine.

Coloquei de volta minha camiseta, minha blusa e me encaminhei feliz da vida para a filazinha (tomando o maior cuidado do mundo para não olhar para trás, afinal, eu já estava naquela merda, e ainda ficar vendo marmanjo pelado? Seria totalmente constrangedor.)

Feliz, saí da sala e fui de volta ao pátio, sorridente e harmônico, coisas que não duraram por muito tempo.

Sentei-me no banco, que ao meu ver era totalmente mácio e confortável agora, e esperei. Esperei por alguem para me tirar daquele lugar, por alguma luz, por alguma esperança, por alguem que seja, por algum MERO MORTAL, FILHO DE UMA PUTA QUE ME PUDESSE TIRAR DAQUELE PÁTIOZINHO DE MERDA.

...


Mas isso não aconteceu, pelo menos não até as últimas 3 horas que se seguiram. 3 horas sentado naquele banco que agora era duro como pedra e gelado como gelo. 3 horas sentado, olhando para os malditos militares que ficavam contando piadinhas infâmes e sem nexo. 3 horas sentado, aguentando a maldita dor nas costas que ameaçava me deixar corcunda. 3 horas ...


Felizmente, ao longo que as horas passavam eu via a galera chegando, primeiro Enzo (15 minutos depois de minha chegada), depois Miguita (40 minutos) e por último Faiçal (1 hora) sentando-se no banco em frente à mesa do PCD (posto de controle de dispensados), onde assinariamos a passaporte de volta para o mundo dos sonhos, contos de fada e alegria, longe daquele maldito lugar, onde só tem homens fardados e com cara de mal (onde na verdade são um bando de bostinhas, filhinhos de papai que trabalham 3 horas por dia e ganham mais de 4 salários mínimos por mês).


Foi quando chegou ele, o fabuloso, o incrível, o INSUBSTITUÍVEL, JAPONÊS COM O PINTO NA BOCA!


Acho, de verdade, que o trabalho dele devia ser um dos mais difíceis dali. Ele devia pegar todos os CAMs dos dispensados, colocalos em ordem alfabética, grampear o boleto de pagamento da dispensa e grampear as planilhas que nos guiam ao próximo passo do exército.
Agora, tentem imaginar, ele fazendo isso na mesma velocidade de que uma velhinha lê um livro sobre política. Pois é, ele era um tremendo de um filho de uma puta, que não acabava nunca o trampo dele. À essa altura, o sol já estava fortíssimo, junta com minha dor de cabeça e no corpo que estavam a cada segundo mais fortes e significativas. Ao terminar, ele levantou-se calmamente, pegou os CAMs e começou a falar:


-VOCCXÊS EXSTAUM DIXPENSADOSSSS DO SERRRVIÇO MILITAR! VOCXÊS TEM QUI LÊ ATENTAMENTI O PRONTUARIU QUI FOI GRAMPIADU NOS SEU CAM.


Malaandro ... que porra era aquela? Juro pela minha vida, mas parecia que ele tinha comido abacate e engasgado com o caroço, que não é pequeno. Eu não consegui entender uma frase inteira sequer daquele psicopata lunático que possuia algum problema com fonética.


Agora me diz, por que eles deixam os trabalhos mais chatos para o maluco mais incopetente?


Ahh, mano! Esses caras do exército podem representar a nação e ganhar muita grana, mas po, um pouco de inteligência não seria nada demais, não é?


Finalmente, recebi meu CAM de volta e sai daquele maldito lugar, agora seria fácil, era só subir a rua inteira, mais ou menos 500 m. de subida, no sol escaldante, pegar o metrô, que àquela hora estava cheio (na minha concepção cheio = não da pra sentar) e caminhar do Jabaquara até minha querida e confortável casa.
Por incrível que pareça, eu nem me lembro de ter chegado em casa, só sei que cheguei, dormi a tarde inteira e agora estou aqui.


Pois é gente, agora digam-me, EU TENHO POR QUE AMAR ESSA PORRA DE NAÇÃO?
Desculpem pelo desabafo, de qualquer forma estou feliz.
Beijos e boa noite!

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