domingo, 27 de setembro de 2009

O psicólogo das ruas


Como um organismo pulsante, a cidade grande não pára sequer um minuto. A toda hora, existem pessoas atravessando ruas, carros em movimento, meios de comunicação em ação e homens e mulheres, perdidos e desnorteados. Em São Paulo, precisamente na Avenida Paulista, a circulação de pessoas vai além do horário de funcionamento dos transportes coletivos, o que deixa várias pessoas sem muitas opções para voltar à suas confortáveis casas. Para os jovens que curtem o final de semana, o metrô é a melhor idéia quando o assunto é voltar para casa, mas como uma cerveja chama outra nos bares da cidade, eles se esquecem da hora e se deparam com as portas das estações fechadas.


Em meio ao caos proporcionado na cidade da garoa, um grupo de homens, que circulam em carros brancos e possuem um amplo conhecimento da cidade, salvam quem os chama com um breve sinal de dedo indicador.

Gibson da Silva Alves é um desses homens. Para uns, um herói que acabara com suas preocupações. Para outros, um psicólogo que ouve todos os seus problemas. Para muitos, apenas um trabalhador que é pago para levá-lo aos seus destinos.

Movido pelo amor de sua mulher, Paula, e de suas filhas, Bianca e Camila, o taxista percorre as ruas paulistanas salvando, muitas vezes, a noite de vários jovens que não possuem um meio de voltar às suas casas.

Ao confabular com esse incrível homem, percebe-se que ele não esqueceu de nenhuma corrida que fez durante seus 8 meses de trabalho. Lembra-se com uma memória de elefante do grupo de jovens que um dia entrou em seu Doblo, todos sob efeito de drogas e álcool, insultando todos os motoristas que passavam ao seu lado.

Recorda-se também de uma garota, filha de um empresário, que entrara em seu taxi e chorara, por não ter um pai que lhe desse o carinho e respeito que precisava.

Como poderia esquecer da mulher que entrara no seu taxi e começara a flertar. Mulher essa casada, 25 anos, e dizia amar seu marido, mesmo ele sendo “fraco” de cama. Gibson acha que se realmente o amasse, não teria feito esse tipo de comentário, mas como todo homem faria em sua situação, o taxista se rendeu às tentações da jovem.

Assim como um especialista em sentimentos, o taxista procurava ouvir os jovens problemáticos que entravam em seu carro. Dava conselhos. Ouvia problemas. Mostrava quando estavam errados. Com essa reputação, o herói com nome de astro de cinema conquistara o respeito e carinho de vários clientes, que até hoje ainda marcam corridas com ele.

Todo esse carinho que tem pelos seus jovens clientes vem do que não teve em sua infância. Naturalmente paulistano, morou toda sua vida no bairro de Jardins. Filho de negociantes, Gibson diz ter sempre tipo uma vida de burguês, mas nunca teve uma relação boa com seus pais. Há 9 anos, o homem cortou relações com sua mãe, pelo fato de a mesma ter ciúmes da intimidade do homem com os outros filhos, todos mais novos.

Apesar de todas as complicações familiares, o taxista segue sua vida com felicidade e harmonia, fazendo por suas filhas o que seus pais não fizeram por ele.

Atrás de toda aquela massa corporal, existe um homem sensível e sonhador. Como trabalha em um ramo que é complicado tirar férias, ele não possui tempo para viajar com a família, mas tem planos. Planeja para janeiro de 2010 uma viagem com a família para Cuiabá (MT), buscando conhecer os familiares de sua esposa.

Como toda profissão que envolve exposição, Gibson tem receio sobre certas coisas que podem acontecer sob quatro rodas. Além dos assaltos, que são típicos em São Paulo, o homem tem medo da imprudência dos motoristas nas noites paulistanas. Para ele, os condutores precisam de mais do que educação.


“Para mim, os motoristas, sobretudo os mais jovens, precisam de amor e carinho dos pais. Acho que quando há alguma discussão em casa, os jovens saem revoltados, enchem a cara de álcool e vão pelo mundo a fora com seus carros. Penso que, se tivesse mais diálogo em casa, talvez não aconteceriam tantos acidentes envolvendo jovens hoje em dia.”, diz o taxista, com ar de preocupação.

Quando o assunto de família sai da boca dos jovens, o taxista sempre tenta aconselhá-los a guardar o rancor e evitar fazer besteiras. O homem conta de um jovem que seguiu seu conselho após uma sessão de terapia em seu taxi. Após uma semana, o mesmo garoto ligou para ele e agradeceu, chamando-o de psicólogo das ruas.

Feliz, o taxista continua seus vários trajetos do dia-a-dia. E com um ar de consciência, Gibson coloca seu cinto de segurança e sai, sorridente, em busca de um novo passageiro e uma nova história.

3 comentários:

  1. Nossa mano que dahora esse taxista. Quanto mais ele trabalha, mais ele ensina e aprende com as pessoas.

    Deve ter cada figura que entra nos carros dos taxistas, principalmente a noite..kk

    ResponderExcluir
  2. Não sabia que VOCÊ tinha tirado aquela foto da capoeira...

    ResponderExcluir
  3. Que legal essa história!!! muito bom!
    a la eliane brum.

    beijo!

    ah! valeu o comentário!!!

    ResponderExcluir